quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Poeta Paes Loureiro e os brinquedos de Miriti de Abaetetuba


Estamos de volta a cidade de João de Jesus Paes Loureiro. Abaetetuba dos brinquedos de miriti. Por todos os lugares da cidade, onde nasceu o poeta, passarinhos, canoas, barcos e pessoas de miriti. No Círio de Nazaré em Belém eles se multiplicam, colorindo a procissão e os parques de diversão. No livro “João de Jesus Paes Loureiro, o meu irmão”, do poeta Nonato Loureiro, doado para o acervo do Navegar Amazônia, o João escreve assim sobre os brinquedos de miriti:
“Miriti: embora haja a fabricação de um número limitado de tipos dessa forma de artesanato, cada um dos objetos representa uma singularidade artística individualizadora. Todos têm uma forma, mas nunca uma fôrma. São, portanto, densamente simbólicos. ‘Ora, o que caracteriza o objeto onde o inacessível não é mais deixado ao acaso de procura e execução individuais, mas que é hoje em dia condensado e sistematizado pela produção, que assegura, através dele (é a combinatória universal da moda) sua própria finalidade’.
Quando vão para as mãos do colecionador, do decorador ou para museus, os brinquedos de miriti experimentam o fenômeno que Jean Baudrillard chama de abstração da função. Quando é usado como brinquedo, ele não é um objeto estético. Há a transferência dominante nesse processo de conversão semiótica do brinquedo de miriti. Ele deixa de ser um instrumento, para tornar-se um objeto auto-reflexivo. Não é mais um caminho para uma finalidade exterior a ele, mas um caminho para si mesmo. Não é mais curiosidade e instrumento de jogo para quem o utiliza, mas objeto de paixão de quem o possui.
Os Brinquedos de Miriti de Abaetetuba são expostos ou levados à venda em uma estrutura que tem a forma de uma cruz de braço duplo. Feita com pedaços do mesmo material, tendo por volta de dois metros na haste vertical e um metro nos braços horizontais. Nessa estrutura são presos os brinquedos, formando uma espécie de painel de grande beleza visual. Os brinquedos são colocados sem uma necessária ordem, de modo que essa acumulação de forma, cores e movimento resulta em conjunto estético original e atraente. São as “girândolas”, ou girandas, como popularmente são conhecidas. O nome é apropriado: girândolas.
O conceito de girândolas é de buquê, conjunto de fogos de artifícios, travessão em que se reúnem certo número de foguetes que sobem e estouraram simultaneamente. Os brinquedos reunidos em girândolas são como fogos de artifício imobilizados no ar e no tempo.
Permanecem com seu esplendor exposto, suspenso e sem extinguir diante de olhares atraídos por essas formas e cores exibidas como uma composição plástico-cromática. Uma espécie de esplendor barroco levado pelas ruas. Uma árvore de signos”.
 Navegar Amazônia. Disponível em <http://www.navegaramazonia.org.br/2006/03/13/os-brinquedos-de-miriti-de-abaetetuba-na-visao-do-poeta-joao-de-jesus-paes-loureiro/ >. Acesso em 19/04/2010.
Fotos de:
Companhia Moderno de Dança
Amazônia Empório
Maxine Belém

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